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Paralisação afetou cerca de mil cirurgias eletivas no RN

Expectativa do Walfredo Gurgel é equilibrar fluxo de pacientes durante a semana. Hospital continuava superlotado ontem. Foto: Adriano Abreu

As cirurgias eletivas foram retomadas nesta terça-feira (16) no Hospital Memorial São Francisco e na Clínica Paulo Gurgel, após um acordo firmado entre as secretarias de Saúde estadual e municipal de Natal com cooperativas médicas. A paralisação começou no último 1º de novembro e atrasou os procedimentos de cerca de mil pacientes que estavam com cirurgias programadas, segundo o médico e diretor técnico da Cooperativa de Anestesiologistas do RN (Coopanest), Madson Vidal. Com o retorno dos atendimentos, os gestores estimam que cerca de 2,5 mil procedimentos serão feitos todos os meses.

Dados da Secretaria de Estado de Saúde Pública do Rio Grande do Norte mostram que hoje 12 mil pacientes estão na fila por uma cirurgia eletiva, que são intervenções consideradas “não urgentes” e que podem ser marcadas conforme as demandas das unidades. Em 2020, durante o pico da pandemia de covid-19, a fila chegou a ter 16 mil pessoas.

“Está sendo feita uma força tarefa para que as cirurgias aconteçam o mais rápido possível. Com o retorno das cirurgias no Hospital Memorial e na Clínica Paulo Gurgel as cirurgias estão acontecendo. É importante ressaltar que mesmo com a demanda reprimida, não houve paralisação, pois o hospital também faz cirurgias ortopédicas, além do hospital Deoclécio Marques em Parnamirim”, disse a pasta em nota.

Ainda segundo a Sesap, os pacientes estão sendo encaminhados para o Hospital Memorial e Clínica Paulo Gurgel, como forma de desafogar a lotação dos corredores do Walfredo Gurgel. As cirurgias eletivas que retornaram para as duas unidades são as de segundo tempo, isto é, os procedimentos feitos após um primeiro atendimento na urgência. O caso mais comum ocorre em correções na fratura do colo do fêmur em idosos.

Mesmo com o acordo firmado entre a Coopanest, a Cooperativa dos Médicos do RN, a Secretaria Estadual de Saúde e a Secretaria Municipal de Saúde de Natal (SMS) para pagamento de valores em atraso, o Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel (HMWG) permanece superlotado. Atualmente, neste mês de novembro, a média de atendimentos tem girado em torno de 180 pacientes todos os dias. O índice está acima da média histórica do hospital que é de 140 a 150 atendimentos diariamente. Por mês, passam cerca de 5,7 mil pessoas pelos corredores do Walfredo Gurgel, maior unidade pública do Estado.

A diretora do centro, Fátima Pereira, afirma que a expectativa é equilibrar o fluxo de entrada e saída de pacientes do hospital ao longo desta semana. A gestora afirma que os atendimentos aumentaram no feriadão da Proclamação da República. “Por mais ações que a Sesap faça junto com o hospital, a quantidade de festas que houve no estado neste fim de semana causou esse aumento de violência e acidentes. Foram tirados 60 pacientes, mas entraram de 70 a 80. Foi uma loucura de festas em Pipa e na Festa do Boi também e isso aumentou os acidentes de moto e carro e a violência também. Foi uma demanda imensa que entrou no Hospital Walfredo Gurgel”, comenta Pereira.

O Walfredo Gurgel é o hospital referência de média e alta complexidade para tratamento de traumatologia, ortopedia, neurocirurgia, nefrologia e agravos clínicos. Atualmente, acidentes como quedas da própria altura são as maiores demandas, ultrapassando os acidentes de moto. O hospital recebe ainda pacientes baleados, esfaqueados, vítimas de trânsito, acidentes diversos, além de pessoas com quadro de Acidente Vascular Cerebral (AVC).

A diretora Fátima Pereira explica que o hospital ainda não tem a porta regulada, ou seja, os atendimentos são feitos sem, necessariamente, precisar de um encaminhamento prévio. A ideia inicial da Sesap era regular a porta do Walfredo Gurgel em setembro para que o suporte menos complexo fosse absorvido pelos hospitais municipais, regionais e unidades de pronto atendimento (UPAs), mas as novas medidas ainda estão em processo de implementação. Neste modelo, o “atendimento porta aberta”, no qual o paciente vai diretamente ao hospital, deixaria de existir. As exceções são para os casos de urgência e emergência.

“O Walfredo Gurgel não tem porta fechada e ainda não tem a porta regulada, vai ser regulada, ia começar em outubro, mas não começou. O hospital mais complexo do Estado deveria ter a porta regulada, não fechada. O paciente tem que chegar com a comunicação de que ele está chegando para que a equipe se prepare para receber o paciente, mas o paciente de livre e espontânea vontade que chega na porta sozinho, qualquer um que chegar, numa emergência, vai ser atendido”, detalha a médica.

Acordo

As negociações para o retorno das cirurgias eletivas envolveram as esferas estadual e municipal. Na primeira reunião, na quinta-feira (11), representantes da Sesap se encontraram com membros das cooperativas e costuraram um compromisso para o pagamento de salários em atraso. O conflito referente aos pagamentos teve início em setembro deste ano, quando as cooperativas relataram atraso nos repasses do poder público que se aproximavam dos 10 meses.

No encontro com as secretarias, ficou acordado que a dívida poderia ser paga em 14 meses, com o pagamento constituído por uma parcela de mês atrasado mais a parcela do mês corrente. No entanto, em novembro, o repasse que foi feito contemplou apenas os valores referentes a um mês atrasado, sem que fosse pago o mês corrente, o que teria feito a cooperativa paralisar, pela segunda vez, as cirurgias eletivas.

O secretário de saúde pública do estado, Cipriano Maia, se comprometeu a fazer o pagamento das parcelas referentes ao mês de julho, além de fazer o repasse de novembro até o final deste mês. A Sesap também se comprometeu a retomar os pagamentos referentes ao acordo estabelecido sem mais atrasos.

No sábado (13) foi a vez das cooperativas acertarem as contas com o município, o que, até então, estava emperrando a volta das cirurgias eletivas. Segundo Madson Vidal, os atrasos são referentes aos meses de abril, maio, junho, julho e agosto deste ano. O acordo foi de que o Município fará o repasse em três parcelas: a primeira até 30 de novembro, a segunda até 11 de dezembro e a última em janeiro.

“A gente fez uma reunião lá na Associação Médica, que durou por volta de quatro horas, com o prefeito de Natal, com toda a cúpula econômica do governo municipal e técnicos da secretaria de Saúde. A gente fez um acordo de abril até agosto. A cooperativa foi compreensiva, não radicalizou. O que a gente espera é que esse acordo, tanto com o Executivo estadual quanto o municipal, perdure aí por muito tempo e que não haja necessidade de suspender novamente os atendimentos para receber uma coisa que é sagrada, que é o honorário dos médicos”, comenta.

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