‘Estado precisa dar as condições para o empresário fazer os investimentos’, diz George Costa

Na avaliação de George Costa, coordenador da Câmara do Turismo, o ano de 2023 deve ter como foco os investimentos na promoção de Natal como destino turístico.

Com o término da pandemia, a completa retomada do Turismo deve ser o principal foco das entidades públicas e setor privado do Rio Grande do Norte. Segundo avaliação do coordenador da Câmara Empresarial de Turismo da Federação do Comércio, George Costa, a principal ação dos próximos meses deve ser o investimento na promoção do Destino Natal. Essa iniciativa, de acordo com ele, deve atrair turistas nacionais e internacionais e funciona em médio prazo, com bons retornos para um dos setores que mais emprega no Estado e na capital. Antes de fazer parte da equipe Fecomércio, o coordenador fundou a Luck Receptivo em Natal, nos anos 2000. Também foi presidente do Sindicato das Empresas de Turismo do RN  (Sindetur), do Natal Convention Bureau e da  Associação Brasileira das Agências de Viagens (ABAVRN), além de Conselheiro Federal da ABAV Nacional. Confira a entrevista completa.

Qual a expectativa para  a retomada de vendas e recuperação econômica do setor nos próximos meses?

Estamos tendo a consequência daquilo que aconteceu em março agora em abril, maio e junho.  Esses três meses estão sendo bem difíceis para o mercado, pouca gente na cidade e esperamos sim um semestre normalizado, ou seja, com  alta demanda, também retornando um mercado que até em 2022 não estava muito no radar, que era o mercado internacional.  Tanto da Europa, quanto da América Sul principalmente, Argentina, Paraguai, Uruguai e Chile. São os principais turistas internacionais para gente e eles estão retomando essa demanda. Nesse começo de ano, a gente começa a perceber que o mercado internacional volta porque os vôos começaram a voltar. 

Na sua avaliação, essa recuperação tem sido lenta?

 Ela foi lenta porque nós estamos falando de uma pandemia que foi em 2020. Nós estamos em 2023. O mercado do Turismo ele é muito sensível a esse tipo de problema. Ele cai muito rápido e a recuperação sempre é gradual, porque o turismo ele é uma expectativa de prazer. A pessoa, quando não está se sentindo à vontade para sair de casa ou da cidade, ela tende a demorar um pouco mais esse retorno. Foi isso que aconteceu, mas a gente espera que em 2023 a gente retome tanto no mercado nacional como no internacional os patamares de 2019.

O que é preciso fazer para alavancar o turismo no RN?

Agora, o que temos que fazer é investir cada vez mais em promoção. É provocar o desejo do cliente de vir para Natal, porque os concorrentes estão aí, tanto no mercado regional, como no mercado internacional. As estradas estão muito ruins para fazer turismo e isso impacta diretamente no custo e no aproveitamento do dia daquele cliente. Estamos com problemas graves de infraestrutura na praia do Ponta Negra. Obviamente algumas obras foram feitas, por exemplo a avenida Praia de Ponta Negra, a readequação onde tem onde vários restaurantes e bares, foi uma coisa muito positiva; a iluminação que hoje já é de LED. Também temos essas duas obras estruturantes que estão acontecendo em Natal, em volta de Ponta Negra e o mercado da Redinha. Uma coisa que ficou a desejar é a parte da Segurança Pública, não só pelos ataques que aconteceram em março, mas é uma coisa que vem atrapalhando o turismo porque ninguém viaja para um lugar inseguro. 

O retorno do turismo está mais focado no turista regional e nacional. Esse público é suficiente para sustentar o setor?

O mercado regional, não. Ele foi a tábua de salvação durante a retomada da pandemia.  Primeiro, eles são nossos vizinhos e não têm um gasto tão expressivo como o mercado nacional e internacional. O mercado nacional, com essa retomada, já ocupa boa parte da hotelaria. Existem dois mercados que são complementares a essa ocupação hoteleira. Um é o mercado internacional que quando voltar será com um poder aquisitivo maior. Ele tem um gasto médio maior, porque normalmente fica mais tempo. Os eventos que dão mais rentabilidade para  hotelaria, como para mercado todo, são os eventos científicos e acadêmicos, como congressos, encontros simpósios, feiras, que trazem muito mais recurso. São dois segmentos que ainda não voltaram na sua plenitude.

Quais políticas de fomento faltam para assegurar a retomada do turismo?

No turismo internacional é ir no mercado. Esse ano, por exemplo, nós fomos na Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai mais de uma vez já nesse semestre e já estivemos nas feiras europeias da Espanha, Holanda, Portugal e Alemanha. Existe um trabalho sendo feito, é um trabalho de médio prazo. Vamos fazer rodada de negócios na Argentina, em Londres.

Na parte de negócios existe um trabalho muito relevante feito pelo Natal Convention Bureau que é um uma fundação privada sem fins lucrativos, que já tem convênio, inclusive do Estado, para captação desses eventos e vamos ter alguns eventos, tanto no segundo semestre como para 2024, que já estão captados. 

Qual o caminho para que o estado se posicione no sentido de se diferenciar no setor?

O necessário nesse momento é se diferenciar em relação aos demais estados concorrentes. Então, o que é que eu posso mostrar aqui, que só aconteceu aqui. Vou dar o exemplo da Segunda Guerra Mundial. Nós tivemos uma história que só aconteceu no Rio Grande do Norte, não aconteceu em outro lugar e essa história já tem 70 anos e a gente não consegue explorar. É papel do governo fomentar esses produtos. A iniciativa privada vai realizar  porque eu não acredito em realização de produto turístico por parte de governo nenhum, nem  estadual, municipal ou federal. Ele precisa dar as condições e a técnica para que o empresário possa fazer esse investimento.

O potiguar está viajando mais? Está indo para mais longe?

O natalense aproveitou o momento que não podia ir para muito longe e passou a visitar muito dentro do Estado e nas regiões mais próximas. Isso é um fenômeno. O turista natalense tem uma tendência muito grande de ir para o Sul, ou seja, Gramado e Foz do Iguaçu são os dois principais; Rio de Janeiro com as cidades ao redor, as cidades históricas, e o litoral e, naturalmente, para o exterior.  

Já está próximo dos níveis pré-pandemia, em termos de volume de pacotes de viagens?

Sim, do mercado nacional, eu diria que a gente está praticamente nos níveis de 2019. Para o mercado internacional, ainda não, tanto na vinda como também na saída, porque naturalmente houve uma perda de poder aquisitivo e o câmbio ficando mais alto fica mais difícil ir para o exterior.

Há perspectivas de geração de novos empregos este ano?

Sim, eu entendo que até o final do ano, com a demanda crescente que nós vamos ter   vamos gerar novos empregos e o turismo tem uma característica muito interessante, quanto maior o crescimento da empresa ou dos negócios, mais gente é empregada porque é da essência da atividade, o contato pessoal. 

Como avalia o incentivo ao turismo no Estado?

O que o empresariado quer é que cuidem do que vocês têm que cuidar, da infraestrutura, que a gente sabe vender, a gente monta e faz um negócio acontecer. Existe um investimento na área de promoção,  mas peca muito nessa área de infraestrutura. A gente teve dois pontos relevantes, que é a reforma do Centro de Convenções, que foi um grande passo para o mercado do Turismo de Negócio e do Forte dos Reis Magos, que terminou agora no ano passado e que passou oito anos fechado.

A queda do PIS e Cofins vai elevar venda de passagens aéreas e diminuir os preços?

Tudo que seja para para diminuir a carga tributária do País, que é um absurdo completo,  ajuda porque por mais que se diga que a passagem aérea vai ser sempre  muito cara, a gente vê que existe um custo do Brasil muito mais alto. Então, quanto mais eu diminuir isso, mais chances de eu ter competitividade, mais chance de outras empresas entrarem no mercado e diminuir o valor da passagem aérea. Dizer que isso vai acontecer, não dá, porque tem muitos outros fatores. 

O senhor defende Parcerias Público-Privadas para alavancar o turismo? Quais equipamentos poderiam ser concedidos?

Eu não entendo o Governo tomando conta de produtos turísticos. Para mim, a função dele não é essa. Eles não sabem fazer e eles não têm liberdade econômica para fazer isso por uma essência do poder público. Tem todas as barreiras burocráticas. O Centro de Convenções é um produto que se fosse da iniciativa privada, com certeza essa retomada conseguiria ter sido mais rápida.  A Fortaleza dos Reis Magos é um equipamento espetacular. O Museu da Rampa é outro equipamento com história única que não tem dinamismo econômico, também o Cajueiro de Pirangi. O Parque das Dunas também seria um equipamento turístico. O Parque da Cidade de Natal, a mesma coisa. 

Quais as expectativas do setor no RN para 2024?

Existe muita incerteza ainda do que vai acontecer nesse ano, especialmente em relação a questão inflacionária do câmbio.  Inflação por naturalmente fazer com que nosso produto fique mais caro e o poder aquisitivo das pessoas diminua. O câmbio é um fator muito relevante, porque se o câmbio  tem um aumento, para o turista de Natal sair, é pior, mas para o turismo internacional, é melhor.  A estabilidade econômica vai fazer com que em 2024 a gente tenha um ano melhor do que esse ano de 2023.

Fotos: Magnus Nascimento

Fonte: Tribuna do Norte

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