Em xeque, o papel de assessor

Na corrida pelo “furo”, nenhum um só veículo teve o cuidado de checar a informação repassada pela assessoria de Imprensa da celebridade sertaneja.

Em meio ao clima de grande comoção que ainda reina na população brasileira pela tragédia aérea que tirou a vida de Marília Mendonça, popstar da música sertaneja carimbada de estilo “sofrência”, um detalhe ainda está gerando as maiores discussões no meio jornalístico: a divulgação da primeira informação de que a cantora havia sofrido o acidente, mas que estava viva, sendo retirada da aeronave por uma equipe do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais.

Não houve exceção, todos os veículos de comunicação deram a notícia, a começar pela Globo, e este Blog também. Afinal, a fonte era a Assessoria de Imprensa da cantora e a informação chegou como um bálsamo, um grande alívio no coração para nos tirar do estado de choque. Infelizmente, no entanto, não traduzia a realidade. Todos estavam mortos.

Na corrida pelo “furo”, nenhum um só veículo teve o cuidado de checar a informação repassada pela assessoria de Imprensa da celebridade sertaneja. A pressa é inimiga da perfeição, já ouvia meu avô aconselhar. Muitas vezes, a pressa aniquila o verso. Historiador grego, Heródoto dizia que a pressa gera erros em todas as coisas.

José Saramago escreveu que não tenhamos pressa, mas também nos aconselhou a não perdemos tempo. Depois da internet, o Jornalismo vive a era da notícia em tempo real, ou seja, passada aos leitores naquele exato momento em que o fato está acontecendo. Um dos pilares desse novo modelo são os blogs, que agora pautam a televisão e até o rádio.

O que se coloca em xeque, neste episódio triste e profundamente lamentável – também infelizmente, porque sei que existem milhares de coleguinhas que tiram o pão do dia a dia num mercado fora da mídia tradicional – é o papel do assessor de Imprensa. Até quando confiar na informação passada por uma Assessoria de Imprensa na apuração de fatos relevantes?

Fica essa desconfiança a partir de agora, tudo por causa de um tropeço da equipe da cantora. Pelo amor de Deus, quem passou a informação ao jornalista e então assessor de Marília Mendonça que a cantora estava viva? Essa falha jornalística não gerou pauta. Fica, portanto, o registro para um bom debate entre nós, jornalistas, e a sociedade: até onde confiar em assessores de Imprensa?

Zelo pela apuração  Quanto aos jornalistas do batente, absorvidos pela nova mídia digital, o jornalismo da pressa e da ansiedade pelo furo mercado, fica a lição de Clarice Lispector: “Enquanto eu tiver perguntas e não houver respostas, eu não consigo terminar esta maldita matéria”. Filósofo e jornalista francês, Régis Debray nos leva a refletir: “Antigamente, quando você chegava com uma novidade a um diretor de jornal, ele piscava os olhinhos, esfregava as mãos e dizia entusiasmado: ‘Ótimo, ótimo, vamos publicar já! Ninguém está falando nisso!” Mas hoje, quando se chega a um diretor de jornal com uma novidade, ele faz um muxoxo de desprezo e diz: “Isso não vai dar. Não interessa. Ninguém está falando nisso”.

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