Carnaval mantém economia aquecida mesmo sem festas de rua

Em 2022, pelo segundo ano seguido, não serão permitidas festas na rua durante o carnaval. Festas privadas movimentam setor. Foto: Fernando frazão

Cláudio Oliveira

Repórter


No segundo ano sem o tradicional carnaval de rua, a economia criativa está resistindo e deve ter um movimento maior do que em 2021, mesmo sem uma intensa movimentação nas vias públicas. Em comparação com o último carnaval multicultural realizado em Natal, cerca de R$ 100 milhões deixam de circular sem os festejos do Momo. Apesar desse impacto na economia, o setor cultural não está parado. Festas privadas estão acontecendo, com a movimentação interna, mesmo que tímida, de blocos e escolas de samba, que garantem estarem esperando a hora para levar para as ruas, em 2023, um carnaval maior do que o último realizado em 2020, se a pandemia da covid-19 cessar.

No comércio, a previsão do valor do gasto para esses quatro dias de carnaval teve um aumento de 5,05%, em relação aos dados de 2020, quando a intenção de gastos foi de R$ 520,28. A  Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado (Fecomércio/RN) divulgou na sexta-feira (25) que o movimento das compras de carnaval em 2022 deverá ser intenso, já que 44% dos natalenses irão participar de alguma programação e têm a pretensão de gastar R$ 546,56, nos quatro dias de feriado de Carnaval.

“Não é possível estimar o volume que deixará de circular em virtude da não realização do carnaval de rua. É importante observar que, segundo a pesquisa, as pessoas devem gastar 5% a mais do que foi movimentado no evento de 2020. Neste caso, o que muda é o perfil do gasto, sendo, agora, direcionado ao segmento de Alimentos e Bebidas, ou seja, supermercados, lojas de conveniência, atacarejos, para aqueles itens que serão consumidos”, disse o presidente da entidade,  Marcelo Queiroz.

O aumento, segundo o presidente da entidade se justifica também pela inflação dos preços dos itens, no segmento de alimentos e bebidas. “Mesmo sem a promoção de festas públicas, será aproveitado. Amigos e familiares vão se reunir em almoços diferenciados, churrascos e confraternizações. Esse gasto de alimentação e bebidas já ocorreria normalmente, o que percebemos é que ele foi potencializado, em decorrência de um maior foco nessas programações, já que não teremos os eventos de rua”, analisou o presidente da Fecomércio/RN, Marcelo Queiroz.

A Secretaria Municipal de Tributação de Natal não tem um balanço do impacto que as festas de carnaval, ou a não realização dessas, trazem para as finanças do município. Ludenilson Lopes, titular da pasta destacou que a folia carnavalesca é importante do ponto de vista financeiro porque gera renda e movimenta toda uma cadeia produtiva no período.

Em 2019 a Prefeitura do Natal investiu cerca de R$ 6 milhões no carnaval multicultural, provocando um movimento de R$ 71 milhões, que se refletiu em renda para para muitos natalenses, atraiu a atenção de visitantes e trouxe opções de lazer para o cidadão. No ano seguinte, às vésperas da decretação da pandemia, o investimento direto do município foi de R$ 9 milhões mais R$ 4,6 milhões via Lei Djalma Maranhão de incentivo à cultura.

30-12-19- Taxa de Ocupação Hoteleira em Natal foto/adriano abreu/h/selecionadas

Com a pandemia, no ano passado o carnaval foi realizado virtualmente. E para tanto, os grupos, artistas e agremiações carnavalescas tiveram R$ 965,9 mil à disposição. Neste ano, com maior flexibilização para a realização da pandemia, o investimento da Prefeitura ocorre somente via lei Djalma Maranhão, num montante de R$ 550 mil. O secretário de Tributação reforça que os grandes eventos públicos estão cancelados, mas as festas privadas estão acontecendo e com isso, algum retorno financeiro acontece. 

Setor do turismo prevê recuperação neste ano

De modo geral, o segundo ano seguido sem carnaval não deve trazer danos para o setor de hotelaria, bares e restaurantes, que integram a cadeia produtiva formada pelo turismo. A explicação pode estar no fato de que, antes mesmo do carnaval de Natal ressurgir nos últimos anos, a cidade já era procurada para o “carnaval do descanso” por turistas que buscavam fugir dos grandes centros da folia. A ocupação dos hotéis está em alta, numa notável recuperação do período da pandemia da covid-19 e a mesma tendência é observada no setor de bares e restaurantes.

Aos poucos a capital potiguar conseguiu aliar o carnaval tradicional de rua com grandes shows e, ao mesmo tempo, se manter como destino para descanso no feriadão momesco. O resultado é que a suspensão da folia nas ruas não deve afetar a ocupação da hotelaria, que aponta a pandemia da covid-19 como problema maior do que a suspensão da Festa do Momo.

“Sabemos que medidas sanitárias são necessárias para a contenção do vírus e por isso mesmo precisamos ter cautela e pensar como um todo. Desde o segundo semestre do ano passado, temos acompanhado a recuperação do setor hoteleiro no Rio Grande do Norte. Realizamos um intenso trabalho de divulgação do destino e agora registramos um aumento dos números em relação a 2021”, disse o presidente da Associação Brasileira da Indústria dos Hoteis (ABIH-RN), George Gosson.

Segundo dados da entidade que ele dirige, o esperado para este ano se iguala ao patamar pré-pandemia, ficando em torno de 70% a 80% de ocupação. No ano passado, com medidas mais restritas e sem carnaval, a hotelaria registro 65,40% de ocupação, a menor dos últimos cinco anos para o período. Já em 2019 e 2020 a média ficou em 75%, mas abaixo de 2018 quando foi registrado 82,27% de ocupação. “Por isso, mesmo com a não realização das festas de rua, acreditamos que teremos de 70% a 80% de leitos ocupados no Rio Grande do Norte neste ano”, disse ele.

Essa ocupação anima o setor de bares e restaurantes. O presidente da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) no Rio Grande do Norte, Paolo Passariello, explica que isso deve fazer o segmento sentir menos a ausência do carnaval. “Os bairros com foco no turismo não deverão subir perdas no movimento, mas provavelmente irão perder aquela  fatia adicional de frequentadores da cidade que procuram festas. Sem carnaval nas ruas, os bairros que não tem foco no turismo, devem sentir essa falta com maior intensidade”, explicou.

A Abrasel não tem um levantamento de quanto o setor movimentou nos anos de carnaval ou deixou de movimentar sem a folia em 2021. Por essa razão, também não foi possível apresentar estimativa para este ano. “Ao meu ver, o balanço geral será de uma perda em relação á pré-pandemia, mas é difícil fazer estimativa”, argumentou Paolo.

Setor cultural promete carnaval maior em 2023

Dois anos de carnaval reprimidos pelas restrições da pandemia da covid-19 deverão explodir nas ruas em 2023, se a festa vier a ser realizada. É assim que aqueles que fazem a folia acontecer esperam que ocorra e garantem que estarão preparados para botar o bloco na rua, inclusive a Secretaria Municipal de Cultura de Natal.

O titular da pasta, Dácio Galvão, relembra que neste ano a festa está acontecendo entre paredes com os eventos privados, alguns destes com o patrocínio da Lei Djalma Maranhão. “Isso está acontecendo nos quatro cantos da cidade. Se for possível realizar eu acho que vamos superar o último que tivemos em 2020 porque teremos uma demanda reprimida. Na hora que descomprime, a tendência é que os foliões vistam sua fantasia e saiam para curtir”, prevê o secretário que também preside a Fundação Capitania das Artes (Funcarte).

Os investimentos realizados pela Prefeitura do Natal no Carnaval 2020 geraram um resultado financeiro 56% maior que no ano anterior. O crescimento é atestado em pesquisa realizada pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado (Fecomércio/RN). O levantamento aponta que natalenses e turistas colocaram em circulação R$ 111,1 milhões durante o Carnaval. Em 2019, essa movimentação foi de R$ 71 milhões.

“O setor econômico está sofrido, então, creio que uma vez definida o fim da pandemia e a categoria sanitária passar a ser endêmica, a cadeia produtiva dispara. O carnaval de Natal chegou a um patamar elevado, contemplando os artistas em editais que atraíram até artistas de cidades de fora do estado, como Recife/PE, e mantemos contato permanente com os artistas”, salientou Dácio Galvão.

Nas escolas de samba, apesar da renda extra que muitos foliões que trabalham com a produção das alegorias e fantasias, o impacto também é emocional. “Numa época dessa onde os barracões deveriam estar a todo vapor, hoje encontram-se parados, a ansiedade das pessoas que fazem e amam o carnaval vai lá pra cima porque o carnaval vai além de uma festa profana. É nesse período que um vendedor vira mestre sala, uma manicure se transforma em rainha e isso mexe com o imaginário das pessoas. Foi pensando nisso que a gente não deixou que os barracões se fechassem e montamos nossa programação, nos adaptando a esse novo normal”, conta Larissa Lira, que integra a Liga das Escolas de Samba de Natal.

Para não deixar o samba morrer, as escolas se movimentaram e criaram eventos internos, como a mostra de fantasias que tem o propósito de apresentar o trabalho dos carnavalescos das agremiações, além de apresentar para o público o que as escolas têm. Duas mostras estão abertas, sendo uma no Natal Shopping, em Candelária, e outra na sede da Funcarte, na Cidade Alta.

O carnaval das escolas de samba no ano sem passarela conta com parcerias, como a do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia (IFRN). “O professor Sandoval Vilaverde,  junto com os alunos de multimídia, nos presentearam com as vinhetas de algumas das nossas escolas de samba. Conseguimos também gravar os sambas enredo que estão sendo tocados na Rádio Universitária. Então, em meio à ausência do carnaval, nós estamos em atividade e resistindo”, disse Larissa Lira. 

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